domingo, 29 de agosto de 2010

A Pesquisa e a vida...não sei onde começa uma e onde termina outra!

Voltei pra Bahia...e moro numa cidade linda!
Estou ensinando na Universidade que eu sempre quis, UFBA. Dessa vez a vida me pregou uma peça: a Universidade que sempre quis, aqui na cidade onde moro, só tem cursos da área de saúde. Claro que não fiquei totalmente satisfeita mas, tudo bem, vá lá, Ensino Metodologia do Trabalho Científico, aceitável, pra uma doutora em educação. Mas como diria minha mãe: Deus escreve certo por linhas tortas! e como aprendi a fazer limonada com os limões que a vida me dá...entrei na área da saúde.
Chegando aqui, em grande medida motivada pelo ambiente de trabalho que agora me cerca, comecei a investigar um diagóstico pra o estranho João, meu filho menor. Já tinha começado a fazê-lo desde que fomos pra Rondônia. Devo confessar que não foi nenhuma surpresa, já que durante muito tempo, a familia dizia que eu estava maluca por insistir que ele tinha alguma coisa estranha: Frases descontextualizadas, tics, manias, comportamentos repetitivos e marcados pela inflexibilidade, automutilação do dedo mindinho e o pior, interação social nula com os pares, que é ainda o que mais me incomoda, resumindo acabei descobrindo que meu filho tem uma coisa chamada sindrome de asperger...e o que isso quer dizer mesmo? Para quem vê de fora pode parecer simplesmente que ele é uma criança "esquisita", "mimada", "mal educada" e " cheia de manias", mas numa lingagem técnica, de quem já leu mais da metade dos trabalhos sobre o assunto, publicados no Brasil, poderia dizer que ele possui uma desordem neurológica manifestada por uma tríade de sintomas: déficit de interação social, dificuldade de linguagem e comportamento repetitivo. Pode até não parecer grande coisa se isso não o lançasse no rol das crianças que precisam de atenção especial em seu desenvolvimento. Ele tá dentro da estatística composta por milhares de crianças que têm um TID- Trantorno invasivo do desenvolvimento.
Tudo poderia acontecer sem sofrimento se não fossem alguns contratempos : Pai e familia que no inicio resiste ao diagnóstico, Pediatras que nunca ouviram falar nisso, Escola que não sabe como agir diante do caso, Psicólogos displicentes, Psiquiatras ávidos por medicação, bulling, preconceito, etc.
As crianças que têm Sindrome de Asperger, em sua grande maioria, têm inteligência e Linguagem preservadas, isso geralmente acaba por camuflar e dificultar o diagnóstico, pois essas duas características levam as pessoas, principalmente os médicos, ao déscredito em relação as minhas queixas! Estou cansada de ouvir: Criança é assim mesmo... Mas, ele parece tão normal!...Mas autista fala?...Oh Edilene, e ele nem tem o olhinho puxado né?...ou, Olhando assim ele parece que não tem nada!...Toma remédio?É agressivo?
João adora bichos ( tem muitos), supera jogos complicadíssimos no PC, fala corretamente, faz judô, natação, arteterapia, lê, escreve e assiste filmes. Tudo normal, se não fossem os detalhes: Só fala com adultos e conhecidos, são sempre os mesmos jogos no computador, ainda não superou a resistência ao contato físico ( e no judô isso complica!), os filmes sao sempre os mesmos,sem contar que ele repete a mesma cena mil vezes; na arteterapia é sempre o mesmo padrão de desenhos, se ele pudesse todo dia comia a mesma comida e chora muito quando percebe que não é a comida que ele gosta, se identifica sempre com o vilão das estórias que ouve e assiste, detalhe que me amedronta, pois isso pode indicar um transtorno de personalidade .
E eu, agora na Universidade que sempre quis, só que atuando num Instituto de Saúde, começo uma nova investigação, não tão nova assim, pois como diria Edgar Morin, " eu não tenho uma pesquisa, eu tenho uma vida!"

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